sábado, 15 de dezembro de 2012

Continuação do meu diário virtual, 3ª página

   O dormitório era incrível. Nossas camas eram decoradas com colchas de retalio amarelas, as paredes de cor amarelo-sol e os abajures com renda amarelo-claro. Ao contrário dos dormitórios normais, este era reto com as camas alinhadas uma ao lado da outra. O colchão, como era de se esperar, era macio de mais. A cesta de madeira que fora mencionada por Alfredo estava lá, com um cadeado roxo para ser trancada a qualquer momento.
   Ana não possuía animal algum de estimação, e Fushka foi entregue à Argo Filch, o zelador. É claro que o gatinho odiava Filch, mas não havia outro jeito se não ir com ele.
   A minha noite foi a melhor da minha vida. Sonhei com as coisas mais maravilhosas que alguém poderia imaginar, incluindo pudim de leite condensando e tortinhas de abóboras. Ana ficou com a cama ao lado da minha. Era impossível ter pesadelos, pelo menos não naquela noite, naquele instante perfeito.
   No dia seguinte, era incrível o meu bom humor, de modo que sorria até mesmo para Mádi Brocklehurst. A nossa primeira aula do dia era herbologia. A Prof.ª Sprout era uma bruxa baixinha e gorducha, que nos ensinava tal matéria.
   - Nunca ouvi falar em herbologia - disse Ana, franzindo a testa ao ler os horários.
   - É onde aprendemos a cuidar de plantas e fungos estranhos, e descobrimos para que são usados - respondi.
   As aulas do primeiro ano se passavam na estufa número um. Haviam outras estufas também, mas eram para anos mais avançados. A Profa. Sprout nos guiou até a estufa 1 e nos indicou bacias cheias de lama, para que ficássemos analisando-as. Disse para montarmos grupos de três, e cada trio iria ficar com uma bacia.
   - Muito bem, já formaram os trios? - gritou a Prof.ª Sprout aos alunos, que aos poucos iam se agrupando.
   Naturalmente, fiquei com Ana, mas estávamos com dificuldade em arranjar um terceiro membro para o grupo.
   - Alguém sem grupo? - gritou mais uma vez a Prof.ª
   Ouviu-se um "eu" no fundo da estufa. Todos olharam para ele: um garotinho gorducho de cabelo encaracolado e muito louro usando uma capa púrpura, que estendeu o bracinho gordo.
   - Bem, então você vai para o grupo das meninas ali - e apontou para nós.
   O garoto veio em nossa direção, desajeitado. Dei um sorrisinho sem jeito para ele, mas foi difícil Ana ao menos forçar um.
   A Prof.ª Sprout nos explicou como "colher" os fungos presentes nas bacias e perguntei ao garoto como era seu nome.
   - É Roger Springs, vim para Hogwarts de última hora, quando me inscrevi já haviam selecionado os alunos novos - respondeu ele, meio tímido.
   - Bom, eu sou Susy e esta é Ana - eu disse.
   Olhei para Ana. Ela nem sequer olhou para a cara de Roger, e nem depois do cutucão que dei nela ela conseguiu dar um sorriso ao menino. Que será que havia com ela? Por que será que estava agindo daquele jeito?
   Quando acabou o trabalho na estufa, voltamos para o castelo para a aula seguinte: História da Magia. Diziam que era a mais chata de todas as aulas, e os boatos não erravam. O Prof. Binns era um fantasma, mas agia como se não soubesse disso. Quase dormi na aula, debruçada sobre o livro, quando tocou o sinal anunciando o almoço.
   Ao sentarmos na mesa da Lufa-Lufa para começar a comer, me dirigi à Ana seriamente:
   - Ana, o que foi que deu em você aquela hora? - perguntei.
   - Não sei do que está falando - murmurou ela, tentando evitar o meu olhar ao se servir de empadão de frango.
   - Mas é claro que sabe! Na estufa, a sua reação com o Roger...
   - Não quero saber daquele tal Roger, está bem? Podemos mudar de assunto? - interrompeu-me Ana, mau-humorada.
   - Por que está tão aborrecida? Diga-me, eu só quero ajudar...
   - Eu não quero a sua ajuda! - rosnou ela  - E agora se me der licença, perdi o apetite.
   E se retirou, batendo o pé, as orelhas vermelhas. Parecia que, a qualquer momento, iria sair fumaça de sua cabeça.
   Sem entender nada, me pus a comer, a cabeça baixa de tristeza.
   - Ela vai acalmar, tenha confiança nisso - uma voz falou ao meu lado. Era Justino Finch-Flechley. Ele estava no meu ano, possuía cabelos encaracolados e olhos cor de mel - Só está com ciúmes.
   - Espere aí, isso não faz o menor sentido! Por que estaria com ciúmes? - indaguei.
   - Por que ela acha que você estava dando mais atenção ao Roger do que à ela.- Falou Justino.
   - Do que você está falando? E como você sabe disso?
   - Tudo bem, tem alguma teoria melhor para justificar o acesso de raiva dela?- perguntou ele, erguendo as sombrancelhas com ar de sabe-tudo.
   Eu não tinha pensado nisso antes. Para que ter ciúmes, se estamos falando do Roger? Ana dá de dez à zero naquele gordinho de meia tigela. Na minha opinião, ter ciúmes por causa daquilo era a coisa mais infantil que uma pessoa poderia ter feito até agora.
   - Vá falar com ela - sugeriu Justino.
   E foi exatamente o que eu fiz. Saí do Salão Principal, e fui direto para o dormitório da Lufa-Lufa, que era o lugar mais provável em que Ana poderia estar. Ao chegar lá, entrei de fininho pela porta, e lá estava ela, resmungando baixinho para si mesma.
   - Bom, eu sou Susy e esta é Ana - murmurou ela, fazendo uma péssima imitação da minha voz.
   - Sabe, eu só estava tentando ser amigável - interrompi-a. Ana quase pulou de susto, olhando assustada na minha direção. Depois de se recuperar, voltou a fechar a cara para mim.
   Sentei me ao seu lado. Ela continuou olhando para baixo, sem mostrar nenhum indício de felicidade.
   - Não esperava que viesse - falou finalmente ela, baixinho.
   - Bem, é isso que as melhores amigas fazem. Seguem umas as outras em busca de ajudá-las.
   - Já disse que não preciso da sua ajuda. - grunhiu ela.
   - Olha, eu só vim dizer que não precisa ficar com ciúmes.- falei, não direcionando o olhar para ela.
   - Quem disse que estou com ciúmes? - perguntou ela.
   - Se não é ciúmes, então me fala o que é que te intriga tanto.
   Ouve uma pausa momentânea. Finalmente Ana quebrou o silêncio, desabafando:
   - Está certo, não gostei da atenção que você dava ao Roger - ela falou a palavra "Roger" como se fosse a palavra mais desprezível do mundo - Você deve estar achando que eu pareço um bebezinho por pensar assim. Mas parecia que você tinha me deixado pra lá e só ficava conversando com ele.
   Eu queria falar é verdade, esta é a atitude mais ridícula que alguém já teve, mas engoli as palavras. Em vez disso falei:
   - Na verdade, eu só não estava conversando muito com você por que você simplesmente fechou a cara para o mundo, e eu não entendi o por quê. Naquela hora, no Salão Principal, eu só estava tentando descobrir o que eu não tinha entendido. Você mal conhecia o garoto e nem se esforçou para lhe dar um sorrisinho. Eu só estava tentando ser educada com ele. - respondi.
   - Me desculpe, Susy. Eu interpretei mal as suas intenções.
   E nós duas nos abraçamos como amigas felizes novamente.
 
   Na manhã seguinte, acordei cedo. Ouvi passos imediatamente até a porta e, quando vi, umas três garotas estavam com um uniforme esquisito e roxo. Mas não eram uniformes comuns: eram uniformes de quadribol.
 

Continua...   
     
             

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